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Pergaminhos do Cosmão Vol. 3: O Colecionismo Exacerbado

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Oito horas da manhã, de alguma sexta feira de 1992. A calçada de uma locadora de games está apinhada de moleques, vindos de todo canto da cidade com um único intuito: alugar seu jogo favorito. Aquele jogo que vai passar o final de semana. Ou aqueles cartuchos com quem vai interagir por pelo menos uns 2 ou 3 dias. Lhe pareceu familiar essa cena? Pois é, quem foi criança ou adolescente no começo dos anos 90, fatalmente frenquentou locadoras, alugou jogos e passou pela sensação de esperar a locadora abrir.

Muito além de apenas alugar jogos, locadoras naquela época eram verdadeiros templos de amizades e descobertas. Ali fazíamos amigos temporários, daqueles que davam dicas ou aguardavam ansiosamente você perder a última vida pra assumir o controle - no caso dos consoles alugados por hora. Muitas foram as experiências que, por alguns minutos apenas, deixaram impressas em nossas mentes pequenos frames de jogos que iríamos redescobrir no futuro, graças à emulação e à internet.

Mas, onde eu quero chegar com toda essa reflexão sobre o passado? À um simples ponto, caro leitor: o colecionismo e a falsa sensação de aproveitamento dos jogos nos dias de hoje. Bora pra mais um pergaminho? Acomode-se e siga com a leitura então!


Se no passado, alugar um game significava que teríamos que aproveitar ao máximo seu conteúdo, pois custava o dinheiro muitas vezes dos nossos pais, o que dizer dos jogos caros de hoje em dia, principalmente retrôs, que são comprados como meros objetos de adoração, servindo de modelo para fotos e depois abandonados? Claro, não são todos os colecionadores que seguem por esse caminho. Muitos deles realmente aproveitam sua coleção, jogam seus games, aproveitam realmente o software inserido naquela placa de circuito. Mas, o que dizer de coleções gigantescas de jogos que sequer foram jogados? Ou, pior, sequer foram abertos?


um mundo gigantesco e cheio de segredos... num jogo lacrado e nunca utilizado...

As opiniões divergem bastante nesse meio, por isso um convite à reflexão nesse texto, pois é nisso que a emulação muitas vezes é posta em prova, como se fosse algo feio, errado e até "pecaminoso" por alguns mais fervorosos. Afinal, jogar no console é tão diferente assim de abrir um emulador? Que sensação é essa de abrir uma caixinha, pegar o cartucho, enfiar no console, ligar, ver a tela título, bater uma foto, desligar tudo, guardar e ir correndo postar em instagram, facebook e afins? Será mesmo que isso é o destino desses softwares que um dia foram mágicos em nossas vidas e que, para muitos - eu incluso -, ainda são? Ao menos pra mim, não. Deixarei meu parecer sobre esse assunto tão pertinente que vez ou outra permeia as comunidades de retrojogos por aí.

O que eu mais vejo, dia sim e dia não, são pessoas que colecionam jogos como forma de "massagear" o próprio ego, como uma forma de provar algo pra alguém, do tipo: "eu tenho esse jogo raro, eu comprei, vejam, veio completo com caixa, manual, panfletos e etc". O que não se vê muito por aí é o sujeito comprar tal jogo e postar alguma dúvida sobre o game em si: "como alcanço aquela plataforma? Como pega essa vida escondida? Quais dicas vocês tem pra me fornecer sobre esse jogo?". São perguntas que deixaram de existir na maioria dos posts sobre esse assunto.

esse árabe é considerado o maior colecionador de Famicom do mundo... a pergunta que não quer calar é: "quantos mundos ele deixou de conhecer, quantas aventuras deixou de viver com essa coleção praticamente lacrada? É tudo em nome do dinheiro mesmo?"

O ato de compartilhar a satisfação de se aproveitar um jogo está sendo substituído, aos poucos, em virtude de um colecionismo doentio propagado apenas por quem deseja ter, mas não usar ou aproveitar. Você não vê mais quase ninguém aproveitando o jogo em si, é como se o cartucho, o plástico se tornasse um troféu. Esquecem que, dentro daquele plástico, programado dentro daqueles chips e daquele circuito impresso, existe um mundo inteiro implorando pra ser explorado à exaustão, pedindo pra ser descoberto. Arranham apenas a casca e ainda acham que estão corretos e acima dos outros. A prepotência de muitos em ter acabou contaminando outros que davam preferência ao jogar.

qual seria a proposta de um jogo de videogame à não ser... jogá-lo? aproveitá-lo como se deve?

Não são todos assim, claro, esse texto não quer de forma alguma generalizar seu teor. Mas uma grande fatia desse "mercado retrô", principalmente sobre games, parece querer fugir da realidade, ignorar os tempos atuais e viver de passado apenas. A nostalgia é algo bom, eu mesmo gosto muito. Mas é evidente que a emulação em si só traz vantagens, não somente em se tratando de espaço e dinheiro, mas no próprio ato de jogar videogame também.

Acredito que a complexidade que existe ao jogar um jogo, multiplicada pela experiência individual de cada com o mesmo, é muito maior do que qualquer coleção. A experiência com o software nunca será inferior ao simples ato de tê-lo apenas. Uma pessoa usando emuladores pode ser tão ou mais feliz e se sentir plenamente satisfeita quanto alguém que só joga jogos originais, em caixas, completos e nos consoles originais também.

o que você vê na imagem acima? mundos e experiências pra uma vida toda ou um simples amontoado de plástico que vale uma fortuna? Se  sua resposta for a primeira, meus parabéns, entendeu para o que realmente serve um jogo de videogame

No final das contas, sobram apenas uma caixa vazia, um manual rasgado pelo tempo, restos de um controle e um console largado e esquecido dentro de algum armário que provavelmente não funciona mais. A experiência em si, é eterna. O plástico pode demorar, mas acaba se deteriorando também.


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